Sagrada Família

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sábado, 21 de setembro de 2013

ADMINISTRAI COM SABEDORIA OS BENS DO SEU SENHOR!

Am 8,4-7 ; Sl 112 ; 1Tm 2,1-8 ; Lc 16,1-13  (25º Domingo do Tempo Comum – 22/09/2013 – Ano C)

Caríssimos irmãos, neste 25º domingo do Tempo Comum, somos convidados a refletir sobre as nossas atitudes diante dos nossos irmãos e, sobretudo diante dos prazeres mundanos, dos prazeres que a vida terrena proporciona a cada um de nós; Jesus vem com esta parábola nos mostrar como somos espertos diante das coisas do mundo e, retrógrados, lerdos na compreensão dos bens espirituais.
Este evangelho nos ensina e nos ajuda a fazer um verdadeiro exame de consciência e, assim, analisar se estamos agindo ou não em conformidade com os princípios do reino de Deus.
Então, nesta perspectiva em fazer um exame de consciência, gostaria de refletir, de modo sintético, três grandes movimentos que regem esta parábola: 1 – O colóquio, o diálogo entre o administrador infiel e seu Senhor; 2 – o solilóquio (monólogo interior) do administrador e; 3 - por fim, refletir o ato, a ação entre o administrador e os devedores de seu Senhor.
Neste sentido devemos refletir nossas atitudes e comportamentos diante: de Deus; diante de nós mesmo; e por fim, diante do irmão; ou seja, Eu e Deus, Eu e Eu mesmo e, Eu e o próximo; esses são os três grandes passos para se realizar um verdadeiro exame de consciência e, assim, se converter de coração sincero e ardoroso.
Como sabemos, todo administrador deve ser alguém de grande confiança de seu Senhor, já que necessariamente muitos de seus bens devem passar por suas mãos.
E uma vez que está confiança é rompida, já não há mais o que fazer a não ser encerrar todo vínculo existente entre as partes; e é o que este homem de muitos bens faz com aquele que se tornara infiel; rompe os laços, os vínculos existentes entre eles.
Perplexo com toda a situação, aquele homem rico dá o seu veredicto final dispensando o administrador infiel, que por sua vez deveria prestar-lhe contas de todas as dívidas existentes.
Tendo consciência e sabendo perfeitamente dos seus erros, aquele administrador não esboça nenhuma autodefesa; ele não busca justificar os seus erros e suas falhas, pelo contrário, ele reconhece que errou, tanto para com o seu patrão, como para com o seu próximo.                                                               .
Como é difícil para nós cristãos que comungamos todos os dias o corpo e o sangue de Cristo reconhecer as nossas falhas e limitações; se cada um de nós, nos colocarmos no lugar deste administrador, com toda certeza arrumaríamos mil e um desculpas para justificar os nossos atos; e, assim, como Adão e Eva[1], colocaríamos a culpa no outro e nos isentaríamos de no mínimo cinquenta por cento da culpa.
O esposo sempre dirá que a responsável por determinada situação é a esposa; a esposa, por sua vez dirá que a culpa é do esposo; a pastoral A dirá que a culpa é da pastoral B, e este dirá que a culpa é do padre que por sua vez colocará a culpa em A ou B e, este círculo vicioso vai se perpetuando até que a situação chegue ao seu limite, e quando uma situação chega ao seu extremo, já não tem mais o que fazer. E é neste momento, de extrema perplexidade, que deixamos de viver e anunciar a Boa Nova do Senhor; que é o amor, o perdão e a misericórdia.
É necessário fazer como aquele infiel, reconhecer a nossa falha, o nosso erro e, assim, replanejar os projetos e atitudes que devemos tomar de agora em diante. É necessário buscar uma solução e, não procurar culpados ou se dar por vencidos como muitas vezes fazemos, choramingando e maldizendo os nossos irmãos por todos os cantos e lugares.
Este administrador caindo em si se dá conta da delicadeza e da gravidade de sua situação; do dia para a noite ele se vê perdendo tudo, todas as suas regalias e comodidades. Desesperado, busca saídas que, segundo ele, não são cabíveis para si (trabalho pesado e mendigar).
Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha[2].
Após refletir sobre a sua situação, este homem usa o pouco tempo que lhe resta, o presente, o hoje, o aqui e o agora, para garantir-lhe o futuro, para garantir-lhe o amanhã; ou seja, fraudar novamente o seu senhor para garantir um futuro mais confortável; um futuro onde ele pudesse ter os seus sofrimentos aliviados.
E então ficamos chocados com a lição que Jesus nos dá nesta parábola: “O Senhor elogia a esperteza do administrador infiel”; e devemos, sim, nos perguntar: como pode o Senhor Jesus que tanto pregou a justiça e o respeito ao próximo elogiar a desonestidade daquele homem?
Queridos irmãos, é evidente que Jesus não apóia atitudes desonestas, mas observa e nos ensina como somos espertos quando nossos interesses são mundanos; quando nossos interesses estão pautados em coisas materiais; buscamos garantir nossa vida terrena com casa própria, carros, com uma bela poupança, seguros etc., e esquecemos do futuro mais importante, que é a morada eterna, a morada no reino dos céus. Somos mais espertos em cuidar das coisas corporais do que das espirituais, nos afirma Jesus.
Nós cristãos temos uma visão imediatista, uma visão curta, uma visão que não enxerga o amanhã; Iremos um dia, meus queridos, perder toda e qualquer posição social que temos nesta vida e, por isso, devemos nos perguntar: ‘como estamos preparando o nosso futuro quando o Dono da vinha pedir contas de nossa administração’.
Aquele administrador agiu prontamente para salvar e garantir o seu futuro. Sabendo o que estava em jogo, aquele homem não dormiu e nem deixou as coisas para serem resolvidas amanhã, mas de imediato ele começou a reescrever a sua vida e sua história.
Não adianta acumularmos riquezas materiais, pois o Senhor pode pedir conta de nossa vida ainda esta noite! Vai dizer Jesus na parábola do Rico Insensato[3].
Portanto, fazamos como este homem e não deixemos para amanhã as obras de amor e caridade, para que o Senhor da Messe não fique perplexo com a nossa insensatez e com a nossa falta de misericórdia.
Neste dia, meus irmãos, dois passos importantes já foram dados rumo aos céus: Pudemos refletir sobre a nossa relação com Deus e sobre a nossa relação conosco mesmo, tomando consciência do que e de quem nós somos; agora, o próximo passo poderá ser dado ao sairmos desta celebração, que é a nossa relação com o outro, sobretudo com aqueles que temos mais dificuldades de nos relacionar.
Aquele infiel chamou todos os devedores de seu Senhor e não fez nenhuma acepção de pessoa, mas agiu igualmente com cada um daqueles pobres sofredores.
Sabemos que este último passo é sem dúvida o mais difícil, por isso que São Paulo dirá na carta a Timóteo que é necessário que em todos os lugares rezemos, sem ira e sem discussão, pois esta é à vontade salvífica de Deus, que rezemos uns pelos outros.
E eu lhes pergunto: querem começar a viver o reino dos céus em sua vida hoje, aqui e agora? Então perdoe, ame e faça pelo seu próximo àquilo que você faria para o próprio Senhor.
Convido vocês a fazerem a experiência de olhar para o seu irmão e enxergar nele não a Maria ou o João, mas, sim, o próprio Jesus; Se vocês conseguirem enxergar no outro o rosto fraterno de Cristo, então verão e sentirão como é bom viver em paz com o irmão; pois vivendo em paz com o seu próximo, viverás em paz contigo mesmo.
Não deixe meus irmãos, que ninguém destrua a sua alegria e sua paz, e muito menos deixe para amanhã as boas obras que vocês podem fazer hoje, pois amanhã pode ser tarde demais. Vivam com fervor o evangelho e verão que mesmo na dor e nas dificuldades vocês serão felizes, porque sabem em que colocaram a esperança[4].
Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!


[1] Gn 3,12-13
[2] Lc 16,3
[3] Lc 12,20
[4] 2Tm 1,12 ; Sl 71,5