Am 8,4-7 ; Sl 112 ; 1Tm 2,1-8 ; Lc 16,1-13 (25º Domingo do Tempo Comum – 22/09/2013 – Ano C)
Caríssimos irmãos, neste 25º domingo do Tempo Comum, somos convidados a
refletir sobre as nossas atitudes diante dos nossos irmãos e, sobretudo diante
dos prazeres mundanos, dos prazeres que a vida terrena proporciona a cada um de
nós; Jesus vem com esta parábola nos mostrar como somos espertos diante das
coisas do mundo e, retrógrados, lerdos na compreensão dos bens espirituais.
Este evangelho nos ensina e nos ajuda a fazer um verdadeiro exame de consciência e, assim, analisar
se estamos agindo ou não em conformidade com os princípios do reino de Deus.
Então, nesta perspectiva em fazer um exame de consciência, gostaria de
refletir, de modo sintético, três grandes movimentos que regem esta parábola: 1
– O colóquio, o diálogo entre o administrador infiel e seu Senhor; 2 – o
solilóquio (monólogo interior) do administrador e; 3 - por fim, refletir o ato,
a ação entre o administrador e os devedores de seu Senhor.
Neste sentido devemos refletir nossas atitudes e comportamentos diante: de
Deus; diante de nós mesmo; e por fim, diante do irmão; ou seja, Eu e Deus, Eu e
Eu mesmo e, Eu e o próximo; esses são os três grandes passos para se realizar um
verdadeiro exame de consciência e, assim, se converter de coração sincero e ardoroso.
Como sabemos, todo administrador deve ser alguém de grande confiança de
seu Senhor, já que necessariamente muitos de seus bens devem passar por suas
mãos.
E uma vez que está confiança é rompida, já não há mais o que fazer a não
ser encerrar todo vínculo existente entre as partes; e é o que este homem de muitos
bens faz com aquele que se tornara infiel; rompe os laços, os vínculos
existentes entre eles.
Perplexo com toda a situação, aquele homem rico dá o seu veredicto final dispensando
o administrador infiel, que por sua vez deveria prestar-lhe contas de todas as
dívidas existentes.
Tendo consciência e sabendo perfeitamente dos seus erros, aquele
administrador não esboça nenhuma autodefesa; ele não busca justificar os seus
erros e suas falhas, pelo contrário, ele reconhece que errou, tanto para com o
seu patrão, como para com o seu próximo.
.
Como é difícil para nós cristãos que comungamos todos os dias o corpo e o
sangue de Cristo reconhecer as nossas falhas e limitações; se cada um de nós,
nos colocarmos no lugar deste administrador, com toda certeza arrumaríamos mil
e um desculpas para justificar os nossos atos; e, assim, como Adão e Eva[1],
colocaríamos a culpa no outro e nos isentaríamos de no mínimo cinquenta por
cento da culpa.
O esposo sempre dirá que a responsável por determinada situação é a
esposa; a esposa, por sua vez dirá que a culpa é do esposo; a pastoral A dirá
que a culpa é da pastoral B, e este dirá que a culpa é do padre que por sua vez
colocará a culpa em A ou B e, este círculo vicioso vai se perpetuando até que a
situação chegue ao seu limite, e quando uma situação chega ao seu extremo, já
não tem mais o que fazer. E é neste momento, de extrema perplexidade, que deixamos
de viver e anunciar a Boa Nova do Senhor; que é o amor, o perdão e a
misericórdia.
É necessário fazer como aquele infiel, reconhecer a nossa falha, o nosso
erro e, assim, replanejar os projetos e atitudes que devemos tomar de agora em
diante. É necessário buscar uma solução e, não procurar culpados ou se dar por
vencidos como muitas vezes fazemos, choramingando e maldizendo os nossos irmãos
por todos os cantos e lugares.
Este administrador caindo em si se dá conta da delicadeza e da gravidade
de sua situação; do dia para a noite ele se vê perdendo tudo, todas as suas
regalias e comodidades. Desesperado, busca saídas que, segundo ele, não são
cabíveis para si (trabalho pesado e mendigar).
Para cavar, não tenho forças; de
mendigar, tenho vergonha[2].
Após refletir sobre a sua situação, este homem usa o pouco tempo que lhe
resta, o presente, o hoje, o aqui e o agora, para garantir-lhe o futuro, para
garantir-lhe o amanhã; ou seja, fraudar novamente o seu senhor para garantir um
futuro mais confortável; um futuro onde ele pudesse ter os seus sofrimentos
aliviados.
E então ficamos chocados com a lição que Jesus nos dá nesta parábola: “O Senhor elogia a esperteza do administrador
infiel”; e devemos, sim, nos perguntar: como pode o Senhor Jesus que tanto pregou
a justiça e o respeito ao próximo elogiar a desonestidade daquele homem?
Queridos irmãos, é evidente que Jesus não apóia atitudes desonestas, mas
observa e nos ensina como somos espertos quando nossos interesses são mundanos;
quando nossos interesses estão pautados em coisas materiais; buscamos garantir
nossa vida terrena com casa própria, carros, com uma bela poupança, seguros
etc., e esquecemos do futuro mais importante, que é a morada eterna, a morada no
reino dos céus. Somos mais espertos em cuidar das coisas corporais do que das
espirituais, nos afirma Jesus.
Nós cristãos temos uma visão imediatista, uma visão curta, uma visão que
não enxerga o amanhã; Iremos um dia, meus queridos, perder toda e qualquer
posição social que temos nesta vida e, por isso, devemos nos perguntar: ‘como estamos preparando o nosso futuro
quando o Dono da vinha pedir contas de nossa administração’.
Aquele administrador agiu prontamente para salvar e garantir o seu
futuro. Sabendo o que estava em jogo, aquele homem não dormiu e nem deixou as
coisas para serem resolvidas amanhã, mas de imediato ele começou a reescrever a
sua vida e sua história.
Não adianta acumularmos riquezas
materiais, pois o Senhor pode pedir conta de nossa vida ainda esta noite! Vai dizer Jesus na parábola do Rico
Insensato[3].
Portanto, fazamos como este homem e não deixemos para amanhã as obras de
amor e caridade, para que o Senhor da Messe não fique perplexo com a nossa
insensatez e com a nossa falta de misericórdia.
Neste dia, meus irmãos, dois passos importantes já foram dados rumo aos
céus: Pudemos refletir sobre a nossa relação com Deus e sobre a nossa relação
conosco mesmo, tomando consciência do que e de quem nós somos; agora, o próximo
passo poderá ser dado ao sairmos desta celebração, que é a nossa relação com o
outro, sobretudo com aqueles que temos mais dificuldades de nos relacionar.
Aquele infiel chamou todos os devedores de seu Senhor e não fez nenhuma
acepção de pessoa, mas agiu igualmente com cada um daqueles pobres sofredores.
Sabemos que este último passo é sem dúvida o mais difícil, por isso que São
Paulo dirá na carta a Timóteo que é necessário que em todos os lugares rezemos,
sem ira e sem discussão, pois esta é à vontade salvífica de Deus, que rezemos
uns pelos outros.
E eu lhes pergunto: querem começar a viver o reino dos céus em sua vida
hoje, aqui e agora? Então perdoe, ame e faça pelo seu próximo àquilo que você
faria para o próprio Senhor.
Convido vocês a fazerem a experiência de olhar para o seu irmão e
enxergar nele não a Maria ou o João, mas, sim, o próprio Jesus; Se vocês
conseguirem enxergar no outro o rosto fraterno de Cristo, então verão e sentirão
como é bom viver em paz com o irmão; pois vivendo em paz com o seu próximo,
viverás em paz contigo mesmo.
Não deixe meus irmãos, que ninguém destrua a sua alegria e sua paz, e
muito menos deixe para amanhã as boas obras que vocês podem fazer hoje, pois
amanhã pode ser tarde demais. Vivam com fervor o evangelho e verão que mesmo na
dor e nas dificuldades vocês serão felizes, porque
sabem em que colocaram a esperança[4].
Louvado seja o nosso Senhor Jesus
Cristo!