Sagrada Família

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sábado, 30 de novembro de 2013

A LUZ DA FÉ

O papa Francisco nos recorda em sua primeira encíclica, Lumen Fidei[1], que a Filosofia e Teologia são as responsáveis por fecundarem a nossa compreensão do mundo, das coisas e das relações humanas, ou seja, uma complementa a outra; porém, vai ainda nos afirmar que a razão sem a luz da fé é um ‘caminhar na escuridão’, pois Jesus é a luz que veio ao mundo para iluminar toda obscuridade. Somente Ele pode iluminar a cegueira de nosso ser e clarificar a nossa razão, dando-nos discernimento e sabedoria nas tomadas de decisão.

Retomando o livro do Gênesis[2], recordamos que no princípio as trevas cobriam a terra e que por falta de luz ela estava vazia e sem forma e, somente após a iluminação Divina é que ela ganha forma e passa, assim, a ter ordem e vida.

A fé, portanto, nasce do encontro com o Único capaz de dissipar as sombras da nossa escuridão; do encontro com a única e verdadeira fonte capaz de nos trazer a luz da vida.

Mas para o cristão o que é a fé? A fé é a nossa certeza da vida eterna e a nossa resposta de amor ao Deus que nos conduz ao Seu encontro. Nela, recordamos as maravilhas que Deus realizou ao longo da história de nossa salvação.

Se ela é uma ‘recordação’, então se faz necessário conhecer aquilo que o Senhor realizou aos nossos antepassados. E é na palavra, ou seja, na Revelação de Deus, que alimentamos a nossa fé e tomamos conhecimento dos prodígios realizados a nosso favor.

Deparando-nos com a Revelação Divina, tomamos conhecimento do amoroso convite para despojarmos do homem velho e viver a nova vida trazida por Cristo.

A fé e o encontro com Deus, portanto, provém da escuta amorosa da Palavra Divina e do seu anúncio ardoroso e fraterno. Se ela é escuta e anúncio, então se conclui que a fé jamais pode ter como marca o individualismo, pois quem escuta, escuta de alguém que anuncia; neste sentido, podemos afirmar que a fé é uma vocação comunitária, onde o ‘eu’ dá espaço e lugar ao ‘nós’.

Sua transmissão deve iniciar-se na Igreja Doméstica, ou seja, em nossos lares, onde os pais, dando continuidade a obra da criação, transmitem aos seus filhos a verdade de nossa história e a finalidade da nossa vida.

Quando perdemos essa ‘Tradição Familiar’, perdemos, conjuntamente, a noção da constante presença amorosa de Deus em nosso meio, rompendo, assim, o nosso elo e a nossa configuração com Àquele que é o centro de nossa fé e de nossa existência: Jesus Cristo, a quem nos unimos pelos sacramentos, onde tocamos e somos tocados por Ele.

São os sacramentos que nos abrem a este grande mistério da fé e são eles que nos mostram e reafirmam a certeza de que a fé não é algo individual, pois ninguém pode e nem consegue sacramentar a sim mesmo, legitimando, assim, as palavras de Cristo que diz: ‘pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles[3].

Além das Escrituras e dos Sacramentos que nos ajudam a edificar a fé neste longo caminho rumo a Jerusalém Celeste, temos também a Doutrina, o Decálogo que nos auxiliam nesta caminhada, para que não saiamos da estrada e do itinerário do amor.

A fé não pode ser vista apenas como um caminho que nos leva ao reino dos céus, mas antes, como um edifício, uma morada na qual somos convidados a habitar, pois o reino de Deus já se faz presente em nossa vida hoje, aqui e agora como nos recordou outrora o papa emérito Bento XVI[4].


[1] ARAUJO, Hilton José. A luz da fé: síntese. 29 nov. 2013. In.: FRANCISCO (Papa). Lumen fidei: carta encíclica, n. 197. São Paulo: Paulinas, 2013.
[2] Gn 1,1-5
[3] Mt 18,20
[4] Mensagem pascal, 2012.