O papa Francisco nos recorda em
sua primeira encíclica, Lumen Fidei[1],
que a Filosofia e Teologia são as responsáveis por fecundarem a nossa
compreensão do mundo, das coisas e das relações humanas, ou seja, uma
complementa a outra; porém, vai ainda nos afirmar que a razão sem a luz da fé é
um ‘caminhar na escuridão’, pois
Jesus é a luz que veio ao mundo para iluminar toda obscuridade. Somente Ele
pode iluminar a cegueira de nosso ser e clarificar a nossa razão, dando-nos
discernimento e sabedoria nas tomadas de decisão.
Retomando o livro do Gênesis[2], recordamos
que no princípio as trevas cobriam a terra e que por falta de luz ela estava
vazia e sem forma e, somente após a iluminação Divina é que ela ganha forma e
passa, assim, a ter ordem e vida.
A fé, portanto, nasce do encontro
com o Único capaz de dissipar as sombras da nossa escuridão; do encontro com a
única e verdadeira fonte capaz de nos trazer a luz da vida.
Mas para o cristão o que é a fé?
A fé é a nossa certeza da vida eterna e a nossa resposta de amor ao Deus que
nos conduz ao Seu encontro. Nela, recordamos as maravilhas que Deus realizou ao
longo da história de nossa salvação.
Se ela é uma ‘recordação’, então
se faz necessário conhecer aquilo que o Senhor realizou aos nossos antepassados.
E é na palavra, ou seja, na Revelação de Deus, que alimentamos a nossa fé e
tomamos conhecimento dos prodígios realizados a nosso favor.
Deparando-nos com a Revelação
Divina, tomamos conhecimento do amoroso convite para despojarmos do homem velho
e viver a nova vida trazida por Cristo.
A fé e o encontro com Deus,
portanto, provém da escuta amorosa da Palavra Divina e do seu anúncio ardoroso
e fraterno. Se ela é escuta e anúncio, então se conclui que a fé jamais pode
ter como marca o individualismo, pois quem escuta, escuta de alguém que anuncia;
neste sentido, podemos afirmar que a fé é uma vocação comunitária, onde o ‘eu’
dá espaço e lugar ao ‘nós’.
Sua transmissão deve iniciar-se
na Igreja Doméstica, ou seja, em nossos lares, onde os pais, dando continuidade
a obra da criação, transmitem aos seus filhos a verdade de nossa história e a
finalidade da nossa vida.
Quando perdemos essa ‘Tradição
Familiar’, perdemos, conjuntamente, a noção da constante presença amorosa de
Deus em nosso meio, rompendo, assim, o nosso elo e a nossa configuração com
Àquele que é o centro de nossa fé e de nossa existência: Jesus Cristo, a quem
nos unimos pelos sacramentos, onde tocamos e somos tocados por Ele.
São os sacramentos que nos abrem a este grande mistério da
fé e são eles que nos mostram e reafirmam a certeza de que a fé não é algo
individual, pois ninguém pode e nem consegue sacramentar a sim mesmo,
legitimando, assim, as palavras de Cristo que diz: ‘pois onde dois ou três estiverem reunidos em
meu nome, eu estou aí no meio deles[3]’.
Além das Escrituras e dos Sacramentos que nos ajudam a
edificar a fé neste longo caminho rumo a Jerusalém Celeste, temos também a Doutrina,
o Decálogo que nos auxiliam nesta caminhada, para que não saiamos da estrada e
do itinerário do amor.
A fé não pode ser vista apenas como um caminho que nos leva ao reino dos céus, mas antes, como um edifício, uma morada na qual somos convidados a habitar, pois o reino de Deus já se faz presente em nossa vida hoje, aqui e agora como nos recordou outrora o papa emérito Bento XVI[4].