Sagrada Família

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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

EIS O PÃO DA VIDA ETERNA, O PÃO QUE VERDADEIRAMENTE SACIA TODA A NOSSA FOME

Ex 16,2-4.12-15 ; Sl 77 ; Ef 4,17.20-24 ; Jo 6,24-35 (18º Domingo do Tempo Comum – 05/08/2012 – Ano B)

 Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna. ... Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome (Jo 6,27.35)!
 
 
O que devemos fazer Senhor para realizar as obras de Deus Pai?
 
Talvez esta pergunta feita a Jesus há dois mil anos esteja presente ainda hoje em nossos corações e continue sendo a mesma pergunta que não cessamos de fazer ao Filho da Virgem Maria.
 
Assim como naquele tempo, podemos ver que hoje o povo está sim buscando Deus a cada de suas vida, o versículo vinte e quatro do Evangelho nos dirá que a multidão foi ao encontro de Jesus e enfrentaram numerosos desafios e grandes esforços para se encontrarem com o Senhor.
 
Também hoje o povo se esforça para se encontrar com o Senhor ressuscitado; podemos, sim, ver uma grande multidão, mesmo que desorientada por falsos pastores[1], buscando esse pão que sacia toda fome.
 
Creio que a grande pergunta que devemos fazer seja: o que essas pessoas buscam de fato? E o que elas veem em Jesus?
 
Não vejo problema algum buscar em Cristo à cura de enfermidades, a estabilidade financeira e uma vida digna e sem sofrimentos, não vejo problema nenhum buscarmos coisas materiais por intercessão de Jesus, o grande problema é quando não enxergamos, Nele, nada além disso, nada além da vida material, pois como Ele mesmo disse: buscai primeiro as coisas do alto[2].
 
E quando isso acontece, de enxergar em Cristo apenas o pão que sacia a fome corporal, vemos as pessoas procurarem aquelas igrejas que “oferecem” maiores benefícios e que não exigem de nós muitos sacrifícios.
 
Podemos ver na primeira leitura os Israelitas se desgastarem com a dura caminhada no deserto justamente por não compreenderem a proposta libertadora de Deus.
E quando não entendemos aquilo que Senhor realmente quer e nos pede, murmuramos e colocamos em dúvida os planos Deus, impossibilitando, assim, enxergarmos novos horizontes proporcionados por nosso Pai que está céus. Os Israelitas caminhavam para uma terra prometida, que como diz a própria escritura, era uma terra onde corria leite e mel[3], mas a dureza de seus corações os fecharam para essa esperançosa promessa de Deus, colocando em duvida a palavra e a presença do Senhor ao nosso lado.

Queridos irmãos, fechar-se para o Senhor é a maior desgraça que pode ocorrer na vida do homem, portanto, ao invés de reclamarmos da vida e daquilo que nos acontece no dia-a-dia, vamos tentar ter olhos de águia, olhar a frente, olhar o amanhã, olhar o futuro, vamos tentar compreender o que o Senhor quer nos mostrar e nos ensinar com aquela situação em que estamos passando, vamos tentar olhar com os olhos de Deus, com o olhar de Pai, de mãe que quer seus filhos felizes e unidos no amor e na fraternidade. Toda a ação de Jesus sempre visou a nossa salvação e não o nosso aniquilamento, nossa destruição.

Tenhamos a certeza de que assim como Deus providenciou o alimento para o povo continuar a sua caminhada no deserto rumo à libertação, Ele não nos abandonará jamais e, hoje, nós com o verdadeiro pão descido do céu (Eucaristia), Deus continua a nos alimentar e a nos dar forças em nossa difícil caminhada nesta terra de santa cruz.

O maná que por muito tempo saciou o povo de Deus não é embora tenha a sua importância, o verdadeiro pão que nos salva; ele não é o pão da vida eterna, mas, sim, um alimento passageiro, um alimento para um único dia.

Ir ao encontro de Jesus e manter-se em comunhão com Ele, é encontrar em Deus a vida e a paz que precisamos, é encontrar nosso verdadeiro repouso e nossa verdadeira alegria.

Tomemos cuidado, meus amigos, pois Jesus hoje quer nos alerta que a incredulidade e o apego a tradições que não nos dá abertura para a novidade da boa nova, nos fecha a esse encontro amoroso com o Senhor, impossibilitando o acolhimento do amor e da nossa transformação interior para as obras do Pai.

O crer em Jesus é transformar-se em homem novo, é renovar-se continuamente na verdadeira justiça e santidade, como nos recorda São Paulo na segunda leitura.

Crer naquele que o Pai enviou é ter como única e autêntica referencia o Senhor Ressuscitado, renovando em nossa alma os sentimentos do amor e da caridade para que nos unamos ainda mais as obras de Deus em favor do próximo.

A proposta de Jesus, hoje, a cada um de nós é que busquemos permanentemente o alimento imperecível, aquele alimento que definitivamente não se acaba; e Ele nos mostra que partilhando o que temos, damos testemunho do maior sinal que Cristo nos ensinou: o amor[4]. Pois o verdadeiro amor, não está nas palavras, mas nos gestos e na verdade![5], como nos dirá são João em sua primeira carta.

E quando aprendemos a amar de verdade assumimos para nós o projeto de Deus, de fazer deste mundo um mundo melhor, um mundo sem pobres e sem marginalizados, ou seja, um mundo sem dor, sem tristezas e sem desigualdade.
 
E digo com toda a certeza que o maior privilégio daquele que ama é ajudar a pessoa amada; basta olharmos para a cruz e veremos o que realmente é amar, e se realmente amamos a Deus, ajudemo-o, assim, como Jesus, a fazer deste mundo, um mundo de amor, um mundo de paz e um mundo muito mais humano.

 E já que o Senhor nos deu a comer o pão descido do céu, proclamemos para todas as gerações, como nos pede o salmista, as maravilhas que o Senhor realizou e continua a realizar em nosso favor rumo à terra prometida, rumo a Jerusalém celeste.

Meus queridos amigos, peçamos juntos com muito amor em um só coro, o que os Israelitas outrora pediram a Jesus: SENHOR, DÁ-NOS SEMPRE DESSE PÃO![6]
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

Por Hilton José Araujo

[1] Mt 7,15
[2] Mt 5,33
[3] Ex 3,8
[4] Jo 13,34
[5] 1Jo 3,18
[6] Jo 6,34

 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

EM NOSSA CARIDADE A GRAÇA DE DEUS SE MULTIPLICA



2Rs 4,42-44 ; Sl 144 ; Ef 4, 1-6 ; Jo 6,1-15 (17º Domingo do Tempo Comum – 29/07/2012 – Ano B)


... bem-aventurados os misericordiosos, porque obterão misericórdia. Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus (Mt 5,7-8)!


Caríssimos amigos,

O maior privilégio, a maior alegria de quem ama é poder ajudar a pessoa amada. Jesus não quer fama, nem dinheiro, muito menos status; o que Ele realmente quer, é apenas aliviar a dor e o sofrimento do próximo.
Podemos ver neste evangelho o Jesus que ama, o Jesus que se interessa e se entrega aos sofrimentos do outro; Ele é o Senhor que não fica na retaguarda, mas, sim, é aquele que toma a iniciativa e vai ao encontro do outro para ajudar os mais necessitados e distribuir conforme as necessidades de cada um.
O salmista nos dirá que o Senhor nos sacia porque prometeu estar perto de todo aquele que o invoca.
O que mais me chama a atenção neste relato é que Jesus atende e distribui sua graça àqueles que escutam sua voz e lhe são obedientes. Os versículos dez e onze do evangelho vão nos dizer que Jesus pede aos Apóstolos que façam com que todos se sentassem e aqueles que lhes foram obedientes comeram o tanto que queriam.
A primeira leitura de hoje nos afirmará que todos são saciados porque este alimento, fruto da terra e do trabalho do homem é abençoado por Deus, e não esqueçamos que na Antiga Aliança a primeira colheita era destinada a Deus, como forma de agradecer a todos os favores recebidos do céu, e não consigo imaginar esses alimentos sendo abençoados e multiplicados por Deus diante do egoísmo, da falta de amor e de fraternidade.
O amor é primordial para que a graça de Deus infunda-se em nossa vida.
Qual é a grande graça que podemos ver na primeira leitura?
Eu diria que a multiplicação dos pães se dá graças à atitude de amor, para com o próximo, do profeta Eliseu, os pães foram destinados a ele e de imediato ele ordena que distribua-o entre o povo, assim, também, podemos ver no evangelho de hoje que Jesus utiliza do amor do homem para realizar sua misericórdia. André disse: aqui está um menino com cinco pães e dois peixes; gostaria de chamar a atenção para a liberdade que Deus nos dá, pois este garoto poderia recusar a entregar os alimentos a Jesus, mas ele confiou na ação de Deus e podemos dizer que naquele momento ele já experimentava a experiência do encontro o Senhor.
Creio que com estas atitudes, de Eliseu e deste menino, podemos compreender o porque o salmista dirá que todas as nossas obras são para glorificar o nome do Senhor.

Queridos irmãos, mesmo diante das incertezas da vida, devemos confiar na providência divina e na misericórdia de Deus, pois não há cruz, nem desgraça maior do que estar longe do Pai.

Para que creiamos em seu nome, e, assim, possa realizar seus sinais em nossa vida, muitas vezes Jesus nos coloca a prova para que nossa fé seja fortificada em seu nome, por isso, devemos aceitar com amor a vocação, a missão que o Senhor nos confiou; pois como nos recordou São Paulo na carta aos Efésios, há um só corpo e vários membros com suas funções específicas, e se um membro perde a essência para a qual foi criado, todo o corpo sente os efeitos causados por esta desordem: o pé não pode exercer a função da mão, nem a mão exercer a função do pé.
No corpo, sobretudo no corpo místico de Cristo, tudo deve estar em profunda harmonia, pois não há unidade quando não procuramos viver aquela vocação que cada um recebeu de Deus.

Que a santa Eucaristia que iremos receber daqui a pouco, nos leve a amar ainda mais o nosso Pai que está no céu e nossos irmãos que peregrinam conosco rumo a Jerusalém celeste.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

Por: Hilton José Araujo

quinta-feira, 14 de junho de 2012

NÃO SE PODE HONRAR O SENHOR ODIANDO O IRMÃO

1Rs 18,41-46 ; Sl 64 ; Mt 5,20-26 (10ª quinta-feira do Tempo Comum – Ano B)

... se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vós não entrareis no reino dos céus (Mt 5,20)!

PASCOA DE CRISTO NA PASCOA DA GENTE, PASCOA DA GENTE NA PASCOA DE CRISTO !
Quem dera pudéssemos verdadeiramente compreender este mistério que une a nossa vida, a vida de Cristo. Quem dera todo cristão entender o significado deste grande Mistério Pascal realizado em nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho do Deus Altíssimo e da sempre Virgem Maria.
Como nos diz o salmista[1], participar deste mistério é provar e ver quão suave é o Senhor; é anunciar em alta voz a glória do Filho de Deus que veio ao mundo não para condená-lo[2], mas, para salvá-lo e defender os pobres e humildes de coração.
O evangelista Mateus hoje nos dirá que devemos superar a justiça daqueles que se acham justos[3], daqueles que classificam e separam os filhos de Deus como “santos” e “pecadores”. E eu não vejo em hipótese nenhuma, alguém conseguir ser verdadeiramente justo sem estar unidos à vida de Cristo[4].
Creio que fazer parte da páscoa do Senhor é pensar como Ele pensou, agir como Ele agiu e viver deixando de lado toda e qualquer diferença social, cultural e econômica que possa haver em nosso relacionamento com os nossos irmãos.
Não imagino Jesus tendo um relacionamento dúbio com o outro, sobretudo, com àqueles que estavam mais próximos a Ele e que conviviam em sua comunidade e ao seu redor.
Quando aprendemos, de fato, a viver na vida de Cristo, aí, sim, fazemos novas todas as coisas[5], a começar por nós mesmos, que tantas vezes somos mesquinhos em nossos comportamentos, vivendo como se o outro fosse nosso inimigo mortal, como se ele fosse um inimigo do Senhor e das coisas celestiais.
Sabemos que ninguém defendeu tanto a unidade e a reconciliação do povo de Deus como o Filho da virgem Maria, e se realmente queremos ser “In Persona Christi”, como enchemos a boca para falar que somos; em nosso caso, seminaristas, em falar que agiremos “In Persona Christi”; se realmente queremos ser a imagem de Cristo para o outro, devemos mudar radicalmente nossas atitudes para com o próximo, principalmente para com àqueles que temos mais dificuldades de nos relacionar.
Devemos assumir em nossa vida a missão do próprio Cristo, que foi a de não perder nenhum daqueles que Deus lhe deu com tanto amor e com tanto carinho. E isso inclui aqueles que não temos tanta intimidade, e digo intimidade para não dizer, mas já dizendo, inimizade, birra, intriga, hostilidade e tantos outros adjetivos que nos separam do outro e do ideal do “Ser” cristão.
“Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão[6] indagou o apóstolo Pedro. E Jesus claramente lhe responde “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete[7].
Vemos, portanto, que a reconciliação é fundamental na vida de todo cristão, pois só está unido a Deus quem está unido ao próximo[8] e é por isso que Jesus exorta-nos “a reconciliarmos com nossos irmãos, antes de participarmos do banquete do Senhor, do altar da Eucaristia[9].
Podemos ver através da primeira leitura, Elias buscando superar todos os conflitos e desavenças que tinha com o inimigo; e quando estamos em comunhão com as coisas do alto, somos capazes de enxergar a mão poderosa de Deus agindo misteriosamente em nossa vida e desfazendo toda e qualquer ação do maligno que tenta a todo instante nos tirar do caminho da luz e da verdade.
Não queiramos, amigos, ser juizes deste mundo, apontando destrutivamente o erro e a dificuldade do outro, que nossos atos e correções sejam sempre frutos do amor e da fraternidade, e não esqueçamos nunca, que toda ação de Jesus, sempre visou a nossa salvação[10] e não o nosso aniquilamento, nossa destruição e humilhação, como muitas vezes fazemos com nossos irmãos, sobretudo, com aqueles que estão mais próximos a nós.
Portanto, que nossas ações possam estar sempre unidas à ação de Cristo, para que tenhamos a força de gerar o amor e a caridade onde impera o ódio, a discórdia e a desunião.
Acredito que viver a páscoa de Cristo é participar integralmente de sua paixão e ressurreição e deixar Ele participar igualmente de nossas dores, tristezas e também de nossas alegrias.
Sabemos que não é fácil superar nosso ego e nossas convicções, sobretudo, quando ela está relacionada àquelas pessoas que não partilham da mesma ideia que nós. Mas, se realmente queremos viver de acordo com os princípios cristãos, devemos viver para Cristo, com Cristo e em Cristo, agindo como Ele mesmo agiu no relacionamento com o outro.
Há algum tempo fomos indagados sobre “onde e como encontrar Cristo[11], não o Cristo sepultado por nossos pecados, mas, sim, o Cristo ressuscitado que está presente e vivo hoje, aqui e agora como nos lembrou o papa na tradicional mensagem pascal[12].
E para responder a essa pergunta, eu me atreveria a dizer que primeiramente encontramos Jesus não no próximo, como muitos dizem, mas, sim, através da oração, pois é a partir dela que somos fortificados e unidos no amor de Cristo.
E quando digo que é através da oração, não estou querendo dizer em quantidades, mas, sim, em intensidade, em qualidade. Pois podemos rezar o rosário ou todas as horas do breviário diariamente, mas de que adianta ela não ser uma oração sincera, uma oração de entrega, uma oração que não me coloca na presença e em sintonia com o Senhor ressuscitado.
Creio que quando nos transfiguramos[13] no amor de Cristo, nossa oração se converte em luz interior e nosso espírito adere, assim, ao espírito de Deus e suas vontades se fundem ao nosso ser, e “nos tornamos um em Cristo, como Ele é um no Pai[14].
Só a partir do momento em que encontrarmos o Senhor em nosso mais íntimo é que seremos capazes de testemunhar com nossa própria vida a nossa união com o Salvador; vivendo sempre disponível para aliviar a dor do próximo, amando-os como Cristo mesmo os ama, pois neste momento os seus desejos se tornam nossos desejos, sua dor se torna nossa dor e suas alegrias em nossa alegria.
Acredito, sim, que sem a oração, sem esta intimidade com o Senhor, corremos o risco de enxergar Cristo apenas naqueles a quem amamos; e será que com esta atitude, de enxergar Cristo apenas naqueles que amamos, estamos realmente vendo o Cristo que se entregou, não apenas por alguns, mas, por toda a humanidade? Será que realmente estamos vendo aquele Cristo que disse: “os que têm saúde não precisam de médico, mas sim, os doentes; não vim para chamar justos, mas, sim, pecadores[15]”.
Será que o Messias, hoje, diria a cada um de nós, “estive doente e tu me visitas-te[16], tive sede e me deste de beber, tive fome e me deste de comer[17].
Devemos nos perguntar a todo instante sobre qual Cristo está imperando em nossa vida e que tipo de caridade estamos pregando aos nossos irmãos? A caridade do Senhor Ressuscitado ou a caridade dos Escribas e Mestres da lei?
Não esqueçamos, meus irmãos, que é pela reconciliação que a paz, a unidade e a vida na comunidade é mantida, e que “todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo[18] e jogado na prisão, e ficará lá até que pague o último centavo de sua dívida[19].
Caríssimos, amigos, que possamos ser verdadeiros apascentadores do rebanho do Senhor e sempre confessar com todo vigor o nosso amor e a nossa lealdade ao Filho do Deus vivo, testemunhando com a própria vida nossa união com Jesus Cristo o Filho da sempre virgem Maria que a todo o momento nos chama à reconciliação e ao amor fraterno uns para com os outros.
“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete[20]”, “quem tem ouvidos para ouvir, ouça[21].

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!
 
por Hilton José Araújo.


[1] Sl 33
[2] Jo 12,47
[3] 1Jo 2,29
[4] 1Jo 4,7-8.12b.16b ; Liturgia das Horas, v. 2, p.263.
[5] At 21,2-5
[6] Mt 18,21
[7] Mt 18,22
[8] Mt 18,20
[9] Mt 5,23-24
[10] Jo 12,47
[11] Pe. Genaldo, em 11/04/2012.
[12] Bento XVI, 2012.
[13] Mt 17,1-9
[14] Bento XVI. Ângelus – 08/03/2012
[15] Mt 9,12-13
[16] Mt 25,36
[17] Mt 25,35
[18] Mt 5,22
[19] Mt 5,25
[20] Mt 18,22
[21] Mc 4,9

quarta-feira, 4 de abril de 2012

TUDO ESTÁ CONSUMADO

Is 52,13-53,12 ; Hb 4,14-16; 5,7-9 ; Jo 18,1-19,42 (Tríduo Pascal – Sexta-feira Santa)


PASCOA DE CRISTO NA PASCOA DA GENTE, PASCOA DA GENTE NA PASCOA DE CRISTO!

Queridos amigos, “Em verdade, em verdade, vos digo: se grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só: mas se morrer, produzirá muito fruto (Jo 12,24)”, diz o Senhor.

A cruz é o verdadeiro e definitivo sacrifício pascal, ela indispensável para que as obras dêem frutos.

Somente em nosso “sim”, em nossa entrega total a Deus é que fortificamos nosso coração e nossa vida, e, assim, temos coragem de superar as dores da cruz e compreender o silêncio de Deus.

O justo, mesmo nos momentos de desespero não se desorienta em sua esperança, não perde a fé nem mesmo quando seus gritos parecem sem resposta; àquele que se entrega nas mãos de Deus jamais acreditará que seu vínculo com o Pai possa ser rompido, pois Deus em nenhum momento nos desampara e jamais nos abandonará, porque Ele nos criou unicamente por amor.

O relato da Paixão de Cristo que hoje escutamos, tem seu início e seu fim em um jardim, aludindo para nós o jardim do Éden, no qual nós morremos para a verdadeira vida e para o qual voltaremos pela graça de Cristo.

No princípio quando fomos expulsos do paraíso, o homem passou a ter em sua existência a dor, a angústia e a morte, e igualmente no início deste relato, vemos todo o sofrimento e angústia, agora não mais em nosso Pai Adão, mas no próprio Filho de Deus. Jesus nos ensina com sua Paixão o modo de voltar ao jardim preparado ao homem: “dando a vida gratuitamente em favor dos outros”. Jesus sabe que agora sim, chegou a sua hora, o seu momento de entregar “livremente” sua vida pela humanidade.

Ele mesmo disse: “ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente” (Jo 10,18). Para Jesus, exercer sua realeza é poder dar a sua vida pelo próximo e, podemos dizer com toda a certeza que Jesus é verdadeiramente Rei porque cumpriu até o fim a vontade do Pai; a morte de cruz é o ponto alto da fidelidade do Filho ao Pai (Vitório, 2012).

O evangelista Marcos nos relata que Cristo do alto da cruz eleva sua oração ao Deus altíssimo, mesmo em meio a toda aquela escuridão.

E essa certeza de não estar abandonado vem do grito de Cristo: Eloì, Eloì, lema sabactani? Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?.

Caríssimos irmãos e irmãs, as palavras muitas vezes mais escondem do que revelam, e esse grito de Jesus, levantado no cume das trevas, não é o que parece, ele não é o grito de alguém desesperado pela certeza de ter sido abandonado pelo pai, mas sim, é uma oração de sofrimento e esperança de quem é justo e fiel.

Jesus na iminência da morte recita o salmo vinte e dois que se inicia sim, com uma grande lamentação, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”, mas termina com uma esperançosa confiança Naquele que é, que era e sempre será o Justo dos justos, “[...] Ele não desprezou, não desdenhou a pobreza do pobre, nem lhe ocultou sua face, mas ouviu-o, quando ele gritou. [...] perante Ele se curvarão todos os que descem ao pó; [...] anunciará o Senhor as gerações que virão, contando a sua justiça ao povo que vai nascer” (Sl 22,25-30).

Durante seis horas a terra esteve coberta por trevas; as três primeiras horas, ou seja, das nove ao meio dia, apenas Jesus pôde observar a escuridão que cobria o universo, e essa escuridão se apresenta através dos insultos dos diversos grupos de pessoas, como nos recorda o santo padre Bento XVI.

As três horas seguintes, do meio dia as três, as trevas que antes apenas Jesus enxergava, agora se torna visível em toda a terra e todos podem, assim, sentir o vazio que toma conta de todo o cosmo.

Essa escuridão que envolve todo o universo é a presença da morte e do mal, mas também é a presença misteriosa de Deus em ação contra este mal que assola o cosmo e a mãe terra. O papa saliento-nos que o Filho de Deus em um ato de amor, imerge em meio a essas trevas da morte para levar a ela a luz e a vida e, assim, dissipar de uma vez por todas a escuridão do mal.

Querido povo de Deus, mais uma vez, e agora de uma vez por todas, Deus nos mostra que Ele age misteriosamente através do silêncio, libertando-nos do inimigo e do opressor.

Tomemos sempre Cristo como modelo de entrega e de fidelidade a Deus, que possamos colocar nas mãos do Pai toda a nossa história, nossa vida, nossos projetos e anseios.

E, que assim como a Santíssima Virgem Maria, sejamos verdadeiros instrumentos da paz e do amor; que tenhamos forças para aceitar os projetos de Deus e que nossa fé não esmoreça diante da cruz, da dor e do sofrimento.

Que enxerguemos a partir deste grande mistério pascal a solidária mão poderosa de Deus que intervém junto ao sofredor, dando-lhes forças para atravessar o vale das sombras e chegar, assim, no reino de justiça e de paz.

Proclamemos junto ao salmista por toda a nossa vida “Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito!”.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A CEIA DO SENHOR

Ex 12,1-8.11-14 ; 1Cor 11,23-26 ; Jo 13,1-15 (Tríduo Pascal – Quinta-feira Santa)


PASCOA DE CRISTO NA PASCOA DA GENTE, PASCOA DA GENTE NA PASCOA DE CRISTO!

Queridos irmãos e irmãs, na subida rumo à Jerusalém, e literalmente foi uma subida, já que da Galileia para Jerusalém são aproximadamente 960 metros de altitude, só para se ter uma idéia a cidade de São Paulo fica a 750 metros do nível do mar aproximadamente; durante esta subida, Jesus ensina seu povo a se entregar nas mãos de Deus e, sobretudo, ensina seus discípulos mais próximos à missão que lhe cabe seguir, e a missão do Messias está em sua entrega na cruz, entrega esta que tem por única intenção a nossa libertação.

Hoje, o evangelista nos mostra um Jesus completamente consciente de sua missão, “Jesus sabia que tinha chegado a sua hora” nos dirá são João.
Na páscoa que se aproxima, Jesus inaugura um novo evento de libertação; se antes a páscoa tinha o significado da passagem do inverno para a primavera e posteriormente da escravidão à libertação do Egito, hoje, ao celebrarmos o partir do pão festejamos a remissão de nosso pecado, sendo o próprio Cristo imolado por nós, passando-nos da morte para a vida.

Nesta noite se faz oportuno mencionar o grande “Hallel”, ou seja, o salmo 136 que é um grande hino de louvor que conta as maravilhas do Senhor na história de nossa salvação; provavelmente, como bom judeu que era, Jesus cantou- na última ceia, já que é tradição judaica cantá-lo na páscoa, uma vez que ele nos recorda os principais fatos da história do povo eleito.

Talvez neste mundo moderno em que vivemos o que nos falta é justamente enraizar em nossas famílias e principalmente em nossa fé as maravilhas que o Senhor realizou e continua a realizar nessa contínua entrega de Jesus que perdurará até o fim dos tempos, como Ele próprio nos prometeu.

No pão e no vinho Jesus se oferece e se comunica diariamente aos homens, acolhendo-nos em sua mesa, e deixando como exemplo para nós esse grande sinal de acolhimento ao próximo.

O sacrifício voluntário de Jesus transforma-se para nós como seu grande testemunho de amor ao irmão; sua entrega por cada um de nós é o seu maior gesto de caridade para com toda a humanidade.

Portanto, o memorial eucarístico é para nós cristãos o cume, o ponto mais alto de nossa oração. “Fazei isto em memória de mim” diz o Senhor.

Não podemos esquecer que o próprio Cristo nos pede que nos reconciliemos com nossos irmãos antes de participarmos de sua mesa (Mt 5,23-24), pois todo gesto de amor e misericórdia é verdadeiramente nossa “oração” ao Pai.

Caríssimos, colocar em prática este grande gesto de humildade não é nada fácil; para cumprirmos essa missão cristã, que muitas vezes exige nossa humilhação, devemos estar em constante sintonia com as coisas do alto.

A oração nos torna íntimos do Pai, e uma vez íntimo de Deus, seremos capazes de olhar para o próximo e dar-lhe a devida atenção, mesmo que para isso tenhamos que passar por cima de nosso orgulho.

No momento da negação de Pedro, Jesus procura seu olhar para dar-lhe confiança e, assim, ele (Pedro) fortificado na esperança, confirme seus irmãos na fé.

A eucaristia é esse olhar de Jesus que dá força a cada um de nós peregrinos nesta caminhada rumo aos Céus. Caminhada que muitas vezes é desorientada, árdua e pesada, mas, fortificada pelo sangue do Cordeiro.

Talvez, hoje, ainda não compreendamos os planos de Deus, mas a obediência as palavras de Jesus que nos deu o exemplo para que façamos a mesma coisa nos ajudará a triunfar sobre o mal. “Eu vim para servir e não para ser servido” diz o Senhor.

Que possamos meus queridos irmãos, assim como Jesus, transformar a nossa cruz em um sacrifício livre e responsável de amor ao Criador e ao próximo.

E nunca nos esqueçamos que o mal é vencido com o bem, com o amor.
“Que invoquemos de Deus, nesta noite em que o Senhor instituiu o grande sacramento do amor, o dom da paz, para que o ódio dê sempre lugar ao amor e, assim, reine neste mundo a paz.”

sábado, 11 de fevereiro de 2012

JESUS E OS MARGINALIZADOS

Mc 1, 40-45 (6ª Domingo do Tempo Comum – Ano B)



PASCOA DE CRISTO NA PASCOA DA GENTE, PASCOA DA GENTE NA PASCOA DE CRISTO!


“Estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero, fica curado!’”.

Queridos irmão e irmãs, hoje a Sagrada liturgia nos fala sobre a marginalização e as atitudes que devemos ter diante dos excluídos de nossa sociedade.

Nossas mediocridades se arrastam por séculos de geração em geração, como podemos observar na primeira leitura, e mesmo assim, preferimos fechar nossos olhos para esta situação tão repugnante; e porque não dizer, tão indecorosa.

Jesus vem nos trazer hoje um novo rumo, uma nova atitude para esta situação tão lamentável; atitude esta que deve ser tomada por todos nós cristãos que temos o Messias como modelo, mestre e único Salvador.

Tiago em seu capítulo dois, versículo do um ao cinco nos exorta a ficarmos atentos em nossas ações para não nos tornarmos juízes com raciocínios perversos, pois o Senhor não admite e nem nós devemos admitir a acepção de pessoas.

No passado os leprosos eram drasticamente excluídos do convívio social, deveriam gritar ao vento sua desgraça, sua vergonha, para que outros indivíduos não se aproximassem deles, e assim, não ficassem contaminados; deviam andar com farrapos e cabelos desordenados de modo que todos pudessem reconhecê-los, como impuros, a metros de distância.

Rompendo este paradigma da exclusão e quebrando todo e qualquer preconceito, pois outrora nos lembrou que o que torna o homem impuro é o que sai de sua boca e não o que entra, Cristo estende sua mão para acolher com amor e piedade aquele pobre excluído, cruelmente marginalizado da sociedade, livrando-o, assim, daquela humilhante escravidão.

Segundo a lei, o simples contato com um leproso o tornava igualmente impuro, devendo ficar fora do convívio social, em lugares desertos e isolados.

Depositando toda a sua esperança em Jesus, aquele homem joga-se aos pés do Filho de Deus reconhecendo que somente Ele tem o verdadeiro poder da cura, “se quiseres, podes curar-me”, e tocando-o, ressuscita-o da morte em que vivia.

Que testemunho! Verdadeiramente é um tapa em nossa cara; será que nós cristãos que professamos nossa fé no ressuscitado somos capazes de nos entregarmos, de sinceramente nos jogar aos pés de Cristo, entregando a Ele nossas dores e dificuldades? Será que confiamos no Senhor, assim como aquele homem que teve a coragem de romper todas as normas e barreiras por acreditar sem ressalvas no único Redentor e Salvador da humanidade?

“Eu vim para que todos tenham vida” diz o Senhor, “e tenham em abundancia”, e isso se confirma na não excitação de Jesus em tocar aquele intocável, dito como impuro, e libertá-los daquele mal, porém, Cristo pagou as consequências de suas ações, foi Ele próprio excluído do convívio social daquele lugar, indo habitar junto aos banidos e marginalizados, pois como vimos anteriormente, quem tocasse em um impuro, igualmente impuro ficaria, segundo a lei.

É triste ver que hoje, em pleno século 21, essa banalização continua descaradamente acontecendo em nosso meio, denominado “bullying”; muitos ainda são discriminados de nossa sociedade por não terem nada a oferecer, a não ser sua própria vida, como os pobres, órfão, a viúva e o estrangeiro, que, na época de Jesus eram tristemente excluídos do convívio social por não terem nenhuma posição reconhecida na sociedade.

Esta divisão social faz com que o marginalizado fique cada vez mais excluído de nossos olhares, eliminando-os até mesmo geograficamente de nosso meio; basta olharmos para os extremos de nossa grande São Paulo, basta olharmos para o bairro dos Jardins e o extremo da zona leste ou até mesmo olhar nossos lares e as tantas favelas espalhadas por nossa redondeza.

Será que somos capazes, assim como Jesus, de romper regras e ideologias pela verdade do evangelho; ou simplesmente não deixar a opinião pública a nosso respeito prevalecer diante de nossa fé?

Que as palavras do santo evangelho suscite em nossa vida a seguir os passos do Messias, que não marginaliza, nem discrimina ninguém; que nós cristãos, seguindo o exemplo de Cristo, sejamos verdadeiras testemunhas deste amor, pois “onde há amor e a caridade, Deus ai está!”.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!