Sagrada Família

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quarta-feira, 4 de abril de 2012

TUDO ESTÁ CONSUMADO

Is 52,13-53,12 ; Hb 4,14-16; 5,7-9 ; Jo 18,1-19,42 (Tríduo Pascal – Sexta-feira Santa)


PASCOA DE CRISTO NA PASCOA DA GENTE, PASCOA DA GENTE NA PASCOA DE CRISTO!

Queridos amigos, “Em verdade, em verdade, vos digo: se grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só: mas se morrer, produzirá muito fruto (Jo 12,24)”, diz o Senhor.

A cruz é o verdadeiro e definitivo sacrifício pascal, ela indispensável para que as obras dêem frutos.

Somente em nosso “sim”, em nossa entrega total a Deus é que fortificamos nosso coração e nossa vida, e, assim, temos coragem de superar as dores da cruz e compreender o silêncio de Deus.

O justo, mesmo nos momentos de desespero não se desorienta em sua esperança, não perde a fé nem mesmo quando seus gritos parecem sem resposta; àquele que se entrega nas mãos de Deus jamais acreditará que seu vínculo com o Pai possa ser rompido, pois Deus em nenhum momento nos desampara e jamais nos abandonará, porque Ele nos criou unicamente por amor.

O relato da Paixão de Cristo que hoje escutamos, tem seu início e seu fim em um jardim, aludindo para nós o jardim do Éden, no qual nós morremos para a verdadeira vida e para o qual voltaremos pela graça de Cristo.

No princípio quando fomos expulsos do paraíso, o homem passou a ter em sua existência a dor, a angústia e a morte, e igualmente no início deste relato, vemos todo o sofrimento e angústia, agora não mais em nosso Pai Adão, mas no próprio Filho de Deus. Jesus nos ensina com sua Paixão o modo de voltar ao jardim preparado ao homem: “dando a vida gratuitamente em favor dos outros”. Jesus sabe que agora sim, chegou a sua hora, o seu momento de entregar “livremente” sua vida pela humanidade.

Ele mesmo disse: “ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente” (Jo 10,18). Para Jesus, exercer sua realeza é poder dar a sua vida pelo próximo e, podemos dizer com toda a certeza que Jesus é verdadeiramente Rei porque cumpriu até o fim a vontade do Pai; a morte de cruz é o ponto alto da fidelidade do Filho ao Pai (Vitório, 2012).

O evangelista Marcos nos relata que Cristo do alto da cruz eleva sua oração ao Deus altíssimo, mesmo em meio a toda aquela escuridão.

E essa certeza de não estar abandonado vem do grito de Cristo: Eloì, Eloì, lema sabactani? Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?.

Caríssimos irmãos e irmãs, as palavras muitas vezes mais escondem do que revelam, e esse grito de Jesus, levantado no cume das trevas, não é o que parece, ele não é o grito de alguém desesperado pela certeza de ter sido abandonado pelo pai, mas sim, é uma oração de sofrimento e esperança de quem é justo e fiel.

Jesus na iminência da morte recita o salmo vinte e dois que se inicia sim, com uma grande lamentação, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”, mas termina com uma esperançosa confiança Naquele que é, que era e sempre será o Justo dos justos, “[...] Ele não desprezou, não desdenhou a pobreza do pobre, nem lhe ocultou sua face, mas ouviu-o, quando ele gritou. [...] perante Ele se curvarão todos os que descem ao pó; [...] anunciará o Senhor as gerações que virão, contando a sua justiça ao povo que vai nascer” (Sl 22,25-30).

Durante seis horas a terra esteve coberta por trevas; as três primeiras horas, ou seja, das nove ao meio dia, apenas Jesus pôde observar a escuridão que cobria o universo, e essa escuridão se apresenta através dos insultos dos diversos grupos de pessoas, como nos recorda o santo padre Bento XVI.

As três horas seguintes, do meio dia as três, as trevas que antes apenas Jesus enxergava, agora se torna visível em toda a terra e todos podem, assim, sentir o vazio que toma conta de todo o cosmo.

Essa escuridão que envolve todo o universo é a presença da morte e do mal, mas também é a presença misteriosa de Deus em ação contra este mal que assola o cosmo e a mãe terra. O papa saliento-nos que o Filho de Deus em um ato de amor, imerge em meio a essas trevas da morte para levar a ela a luz e a vida e, assim, dissipar de uma vez por todas a escuridão do mal.

Querido povo de Deus, mais uma vez, e agora de uma vez por todas, Deus nos mostra que Ele age misteriosamente através do silêncio, libertando-nos do inimigo e do opressor.

Tomemos sempre Cristo como modelo de entrega e de fidelidade a Deus, que possamos colocar nas mãos do Pai toda a nossa história, nossa vida, nossos projetos e anseios.

E, que assim como a Santíssima Virgem Maria, sejamos verdadeiros instrumentos da paz e do amor; que tenhamos forças para aceitar os projetos de Deus e que nossa fé não esmoreça diante da cruz, da dor e do sofrimento.

Que enxerguemos a partir deste grande mistério pascal a solidária mão poderosa de Deus que intervém junto ao sofredor, dando-lhes forças para atravessar o vale das sombras e chegar, assim, no reino de justiça e de paz.

Proclamemos junto ao salmista por toda a nossa vida “Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito!”.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

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