Sagrada Família

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sábado, 9 de fevereiro de 2013

SE ALGUÉM ME SERVIR, O MEU PAI O HONRARÁ!

Is 6,1-2a.3-8 ; Sl 137 ; 1Cor 15,1-11 ; Lc 5,1-11 (5º Domingo do Tempo Comum – 10/02/2013 – Ano C)
 
Caríssimos irmãos, já estamos na 5ª semana do tempo comum e nos aproximamos do tempo quaresmal onde somos convidados a refletir sobre o nosso sim a Deus, a aprofundar a nossa fé e a saborear a esperança cristã na expectativa da libertação pascal; ou como nos lembra São Paulo[1], somos convidados a sofrer com Cristo para participar de sua glória e sentir, na vida, a alegria de sua Ressurreição .
Então, nos quatro primeiros domingos do tempo comum são Lucas nos faz refletir de maneira intensa a Palavra de Deus como o centro e o cume de toda a nossa vida. O segundo domingo do TC, nas Bodas de Cana, Maria coloca a palavra de Jesus em evidência quando pede aos serviçais que façam tudo o que Jesus mandar; no domingo seguinte o próprio Jesus declara que toda palavra anunciada pelos profetas realiza-se e dá pleno cumprimento Nele; já no quarto domingo Jesus é expulso de sua cidade natal justamente por causa de sua Palavra. E neste domingo, Pedro declara que “em atenção a Palavra de Jesus, ele lançará [novamente] as suas redes[2].
Meus queridos amigos, na liturgia de hoje a Santa Mãe Igreja nos encoraja a aceitar e a cumprir com todo o vigor a missão que recebemos em nosso batismo de ser anunciadores do Santo Evangelho.
E neste sentido o evangelista nos apresenta o chamado dos quatro primeiros apóstolos que mesmo esgotados por trabalharem em vão a noite inteira, ouvem a voz do Senhor que diz: “meu jugo é suave e o meu fardo é leve[3].
Neste evangelho costumamos dar ênfase no chamado de Pedro, André, João e Tiago e deixamos em segundo plano um detalhe que é vital para o amadurecimento de nossa fé; Lucas deixa claro que antes do chamado é necessário à escuta do anúncio do reino, pois é a escuta que nos fortalece na fé.
Jesus alimenta aquele povo que vem a sua procura cheios de “sede e fome[4]” da palavra de Deus, e seu ensinamento é repleto de poder porque Jesus não apenas fala aquilo que Ele pensa, mas testemunha com a sua vida àquilo que Ele acredita; é o testemunho que dá credibilidade para aquilo que anunciamos.
É por causa desta credibilidade que Pedro, experiente pescador acata a descabida proposta do então desconhecido Jesus de lançar novamente as redes.
Nossos trabalhos quando não estão fundamentados em Cristo é como esta pescaria noturna de Pedro e seus companheiros, ela infeliz e improdutiva. Muitas vezes, meus queridos, nossas pastorais se perguntam o porquê da dificuldade em edificar este ou aquele trabalho; o porquê da dificuldade em conscientizar a cada membro daquela pastoral de que o trabalho por ele realizado é para a edificação do reino de Deus em nosso meio, e não para a edificação do João, Ricardo, Maria e etc.
A pesca só se torna produtiva para aqueles apóstolos porque mesmo diante daquela proposta absurda, aceitam a palavra de Jesus e fazem aquilo que o Senhor ordena.
E quando entregamos a nossa vida, o nosso trabalho e nossas ações ao Senhor, Ele vai direcionando-nos para os caminhos do mundo novo; mundo de alegria, de paz e de serenidade. Mas esta alegria pode muitas vezes se tornar uma grande decepção quando ela se torna uma alegria egoísta; e quando não sabemos partilhar aquilo que temos, as nossas redes podem não suportar tudo aquilo que carrega.
Uma rede que é lançada ao mar, quando puxada vem cheia de peixes e tantos outros frutos do mar, mas, também, vem carregada de sujeiras e coisas indesejadas. Os peixes podemos definir como a graça, como aquilo que, de fato, queremos e esperamos; já as sujeiras são as fofocas, as intrigas, a divisão e tantas outras coisas que nos tiram a paz e a felicidade.
E a Sagrada Liturgia de hoje quer justamente nos conscientizar de que todas essas coisas indesejadas, coisas que ninguém quer, infelizmente estarão sempre presentes em nossa vida, porém, aquele que está em sintonia com a Palavra de Deus descobre que a graça do Senhor nos ajuda a cumprir nossa missão, pois ela age mesmo diante de nossos erros e fraquezas.
Neste sentido, a primeira leitura nos fala da vocação de Isaias, o segundo maior profeta do Antigo Testamento; é claro que todos os profetas são importantes, mas o próprio Jesus fez questão de salientar que não houve nenhum profeta nascido de mulher maior do que João Batista, portanto é um erro passar por cima das palavras do Senhor, como muitos fazem pelo mundo a fora.
Mas através da vocação de Isaias vemos que todo aquele que é imbuído pela presença real de Deus não consegue ter os seus lábios grudados e exclamam em alta voz para que todos ouçam que o “Senhor dos exércitos é o único e verdade Santo de Israel[5]; que o Senhor do céu e da terra caminha com o seu povo e a todo o momento nos exorta a “não [termos] medo[6]”, pois mesmo que passemos pelo vale das sombras[7] Ele estará conosco”, nos guardando e nos protegendo.
O profeta Isaias a partir de sua experiência nos mostra e nos ensina que todo homem na presença de Deus sente-se indigno, pequeno e, sobretudo sente-se impuro; é por isso que ao iniciarmos cada celebração, onde estaremos diante da presença real do Cristo Eucarístico, que reconhecemo-nos desmerecedores de tamanha graça e confessamos publicamente essa nossa indignidade.
Agora, não adianta reconhecermo-nos indignos a cada domingo se não nos convertermos de coração sincero e nos dispor a superar ao menos uma fraqueza por vez.
O termômetro para sabermos se de fato estamos nos convertendo ou não é o comprometimento que temos com a palavra ouvida e meditada.
A todo instante, meus amigos, Deus nos convida a conversão e todo aquele que se converte sinceramente responde com grande alegria “Aqui Estou! Envia-me, Senhor[8]; edificando, assim, não apenas a sua própria vida, mas a vida de toda a nossa comunidade.
Na segunda leitura, Paulo nos mostra um atalho para que realizemos de modo eficaz a nossa missão profética. Ele lembra em primeiro lugar aos coríntios que ele não só pregou, mas continua pregando com todo o vigor somente aquilo que ele mesmo recebeu em primeiro lugar, do próprio Cristo que o escolheu para ser um dos pilares de sua Igreja, e daquilo que recebeu dos próprios apóstolos; ou seja, Paulo está testemunhando, por onde quer que passe, a sua própria conversão.
“E o que dá crédito” a sua fé é justamente a sua afirmação na paixão-morte-ressurreição de Jesus. É este o credo que professamos todos os dias, e Paulo, se tratando da profissão de fé é bem claro; ele não deixa nenhuma dúvida sobre qual deve ser a nossa fé, e se ela não estiver fundamentada, alicerçada nesta tríplice certeza, paixão-morte-ressurreição, então estaremos “abraçando a fé em vão[9].
Acho extraordinária esta carta, sobretudo quando Paulo diz que “é pela graça de Deus que sou o que sou[10], afirmando-nos, assim, que sem Deus, por mais que tenhamos tudo, não temos nada; por mais que tenhamos todas as riquezas desta terra, não somos nada; ou seja, sem Deus, não temos nada e não somos nada, essa deve ser a grande nossa certeza.
Este grande apóstolo nos mostrou que a sua conversão foi de fato, uma conversão verdadeira, pois a sua fé o fez trabalhar sem cessar pela instauração do reino de Deus no hoje, no aqui e no agora como nos lembra o papa Bento na tradicional mensagem pascal do ano passado.
Que possamos seguir o exemplo deste memorável missionário, trabalhando com grande fervor no anúncio da Boa Nova e sempre proclamando junto ao salmista que “a glória do Senhor é grandiosa![11].

Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!


[1] Rm 8,17
[2] Lc 5,5b
[3] Mt 11,30
[4] Jo 6,35
[5] Is 6,3
[6] Lc 5,10
[7] Sl 23,4
[8] Is 6,8
[9] 1Cor 15,2
[10] 1Cor 15,10
[11] Sl 137,5

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