Sagrada Família

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sábado, 16 de fevereiro de 2013

TODO AQUELE QUE NELE CRER NÃO FICARÁ CONFUNDIDO!

Dt 26,4-10 ; Sl 90 ; Rm 10,8-13 ; Lc 4,1-13 (1º Domingo da Quaresma – 17/02/2013 – Ano C)
 
Caríssimos irmãos, o evangelho de hoje inicia mostrando-nos quem nos dá força, quem nos guia e quem é que nos livra de todo o mal e de tudo aquilo que nos afasta do projeto de Deus.
 
São Lucas, neste primeiro domingo da quaresma nos mostra em primeiro lugar a importância do batismo na vida de cada cristão. É ele quem nos vivifica e nos faz herdeiros do reino de Deus; é o Espírito recebido no batismo quem nos auxilia em nossos momentos de dificuldade e de escuridão.
 
É através do batismo que nos tornamos FILHOS DE DEUS, porque nele morremos para o pecado, a fim de vivermos a vida nova trazida por Cristo.
 
Então, após salientar a importância deste sacramento em nossa vida, o evangelista nos apresenta as tentações sofridas por Jesus no deserto; tentações essas que cada um de nós também sofremos diariamente.
 
Na primeira tentação Jesus é instigado a perverter-se do projeto de Deus e a tirar vantagem de sua condição divina.
 
Na segunda tentação, o diabo tenta envolver Jesus na gana do poder e da superioridade. E, finalmente na terceira tentação ele busca colocar Deus à prova e, assim, realizar um sinal espetacular, um sinal que demonstre ser Ele o amado do Pai.
 
Mesmo diante das tentadoras propostas, Jesus não abre mão do projeto divino, pois Ele sabe que somente seguindo fielmente os planos de Deus é que Ele poderia libertar o Seu povo oprimido e escravizado pelo pecado.
 
Vejamos que nenhuma proposta de Jesus a seus discípulos são absurdas ou impossíveis de serem cumpridas, e para provar isso, o próprio Messias faz questão de superá-las primeiro, de comprovar que o que Ele diz não é nada de outro mundo.
 
Quando Jesus em Lc 9,23 diz a seus discípulos que “se alguém quiser segui-lo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e segue-me”, Ele quer justamente nos dizer: Meu filho, você é um ungido do Pai, por isso, vença as tentações da vida, assim como Eu as venci.

Portanto, renunciar a si mesmo é rejeitar qualquer proposta, como na primeira tentação, de se beneficiar da condição que exercemos, como os pais, por exemplo, que muitas vezes abusam dessa condição fazendo de seus filhos verdadeiros escravos ou de nossos coordenadores de pastorais que esquecem do testemunho de Jesus e pensam que estão a frente das pastorais para conseguirem privilégios ou exercerem as funções mais cômodas na comunidade, esquecendo que o Senhor nos diz: “quem quiser ser o primeiro, seja o último”. Portanto, rejeitar a si mesmo é rejeitar essa vida de abundância, de gula, de prosperidade desonesta e tantos outros prazeres que visam somente o “eu”, somente a satisfação de meus desejos pessoais.

A segunda tentação é um grande problema em nossa vida, pois nela está envolvida o poder e, sobretudo o nosso ego. Ser dono da vida do outro, mandar e desmandar, dominar tudo e todos é o grande anseio do homem em todos os tempos e lugares; tomar a sua cruz é justamente trocar o poder pelo servir; Jesus não prostrou-se diante do diabo, mas prostrou-se diante de seus apóstolos na última ceia para servi-los, testemunhando como deve ser a vida e as atitudes de todo cristão.

E, finalmente, “segue-me”; seguir Jesus é ter as mesmas atitudes que Ele, que em nenhum momento duvidou do amor do Pai, nem quando vivia o ápice da experiência de sua paixão pela humanidade; e muitas vezes nós lamentamos, choramos e reclamamos por qualquer situação que nos desagrada ou pela primeira dificuldade que aparece em nossa vida; aí caímos na terceira tentação, pedindo a Deus uma prova de seu amor.

Seguir Jesus é olhá-lo e tê-lo como único fundamento, como único alicerce em nossa vida. Jesus não ficava comparando os seus discípulos com os do vizinhos, como muitas vezes fazemos; nós nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos; é sempre a grama do vizinho que é mais verde; é sempre o filho da vizinha que é um bom filho; é sempre a pastoral do outro que é melhor e mais produtiva e, assim, por diante.

Siga os passos de Jesus, alegra-te com aquilo ou com quem Deus colocou na sua vida e cumpra com amor e fidelidade o projeto de Deus, testemunhando, assim, com grande fervor a sua cristandade e ai sua fé.

E neste sentido a primeira leitura nos fala da profissão de fé dos israelitas que se alegravam por todos os prodígios e maravilhas que o Senhor havia feito a seu favor.

Observe que a leitura se inicia expondo um rito, o que chamamos hoje de liturgia; o rito não é para nos engessar e muito menos para nos transformar em meras máquinas, mas, sim, para ajudar a aproximarmo-nos do Senhor com grande respeito e alegria, apresentando a Ele não ofertas materiais e supérfluas, mas a nossa vida, o nosso ser e tudo aquilo que somos.

Só então tendo com clareza o que, de fato, estamos fazendo na presença real do Senhor é que seremos capazes de verdadeiramente professar a nossa fé na paixão-morte-ressurreição de Jesus.

Quando não sabemos o que estamos fazendo e professando, nós achamos graça em tudo, nos distraímos por qualquer coisa e passamos a mecanizar aquilo que deveria nos levar a Deus.

Vejamos que Moisés e seu povo tinham bem claro o que eles estavam fazendo naquela celebração; eles tinham a certeza de que não estavam ali apenas cumprindo um preceito ou porque aconteceria uma festinha/um ágape após aquela celebração.

Todos tinham a convicção de que estavam ali comemorando a sua páscoa, a sua libertação do Egito, a sua libertação da opressão e da escravidão; eles estavam ali reconhecendo que o Senhor, somente Ele é o nosso refúgio e proteção; e as vezes me questiono se, de fato, nós cristão sabemos o significado de estarmos aqui renovando e comemorando a páscoa do Senhor que também é a nossa páscoa.

São Paulo na segunda leitura vem nos confirmar que não é o cumprimento de um preceito que vai nos salvar e no libertar das tentações do mundo, mas é o nosso testemunho de vida que vai garantir o nosso lugar na morada eterna.

No tempo de Jesus grande parte das pessoas acreditavam que a salvação se dava simplesmente pela observância e prática da lei, embora não seja necessário ir tão longe, pois no nosso tempo também fazemos praticamente tudo por tradição, batizamos para tirar o mal olhado, fazemos a primeira eucaristia e a crisma porque senão eu não posso casar na Igreja, dou esmola porque o padre diz que todo cristão tem que praticar a caridade e, assim, por diante.

É, por isso, que Jesus diz: “que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita[1], pois muitas vezes praticamos algo não porque estamos convictos de que o outro é meu irmão em Cristo, mas para mostrar para a Joana, a Maria, a Silvana e tantas outras que estamos bem de vida, que eu sou um santo, que eu sou caridoso e tantos outros pensamentos supérfluos e que não acrescentam em nada na nossa vida.

E aí Paulo irá nos dizer: “ouçam as escrituras, ouçam aquilo que nós apóstolos pregamos”, de que Jesus morreu, ressuscitou e vivo está em nosso meio para nos conduzir ao seio materno do Pai.

Aliás, nestes quatro domingos do tempo comum, refletimos de maneira intensa a palavra de Deus como centro e cume de nossa vida: O segundo domingo do TC, nas Bodas de Cana, Maria coloca a palavra de Jesus em evidência quando pede aos serviçais que façam tudo o que Ele mandar; no domingo seguinte o próprio Jesus declara que toda palavra anunciada pelos profetas realiza-se e dá pleno cumprimento Nele; já no quarto domingo Jesus é expulso de sua cidade natal justamente por causa de sua Palavra. E no domingo passado, Pedro declara que “em atenção a Palavra de Jesus, ele lançará [novamente] as suas redes[2]”.

Uma vez crendo nas palavras de Jesus e tendo a convicção de que Ele morreu e ressuscitou por cada um de nós, seremos capazes de transformar em gesto fraterno aquilo que professamos e, então compreenderemos que não existe judeu e grego, pobre e rico, bonito e feio, mas, sim, filhos amados de Deus.

Que nesta quaresma consigamos refletir sobre o que, de fato, professamos e cremos; e que possamos “pela observância da quaresma, celebrar de coração purificado o grande mistério pascal do Filho Amado do Pai[3]”.

Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!

[1] Mt 6,3
[2] Lc 5,5b
[3] Roteiros homiléticos da quaresma, 2013. p.11.

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