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2,42-47 ; Sl 117 ; 1Pd 1,3-9 ; Jo 20,19-31 (2º Domingo da Páscoas - 25/04/2014 - Ano A)
... mas veio o Senhor em meu socorro (Sl 117,22)! |
Caríssimos irmãos, vivendo ainda
a grande alegria pascal, alegria da vitória de Cristo sobre a morte, celebramos
o domingo da Divina Misericórdia.
Misericórdia esta que o Ressuscitado tem por cada um de nós pecadores.
Celebramos também, neste segundo
domingo da páscoa a nova comunidade
nascida do lado aberto do Senhor. A comunidade cristã nasce verdadeiramente da
cruz e ressurreição do Messias.
Vimos no evangelho de hoje que os
discípulos estavam reunidos no cenáculo, frágeis e inseguros por tudo o que
havia acontecido com o Senhor; o anoitecer, o estar trancados, apavorados e sem
paz são os sinais pelos quais o evangelista vem nos mostrar a desorientação dos
discípulos diante do silêncio de Deus.
Todos esses sinais de morte nos
mostram como é a vida daqueles que não crêem no Ressuscitado; daqueles que
escolhem viver a eterna quaresma, como salienta o papa Francisco.
Ao aparecer aos seus discípulos
pela primeira vez, Jesus se assume e se instaura de uma vez por todas como o
único e verdadeiro ponto de referência para o cristão.
É para Ele que a comunidade deve
olhar e se inspirar, porque se hoje somos capazes de vencer a morte, é porque
Ele a venceu por primeiro.
Ao se colocar no centro da
comunidade o Senhor transmite a cada um de nós a paz tão almejada. E essa paz
que Ele nos oferece é a única capaz de afastar de nós aquilo que nos assombra: a morte, a opressão e a hostilidade.
E é somente ao redor do
Ressuscitado que os discípulos readquirem a alegria de viver e, assim, alegres,
estruturam essa nova comunidade alicerçada nos sinais que indicam a permanência
do Senhor ao nosso lado, e esses sinais são: o amor e entrega de si mesmo.
Uma vez reunidos em torno deste
amor, somos convidados pelo próprio Cristo a assumir a Sua missão, de amar e
não odiar, de perdoar e jamais julgar.
Jesus disse a seus discípulos: “É inevitável que aconteçam
escândalos, mas, ai daquele que produz escândalos! Seria melhor para ele que
lhe amarrassem uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar, do que
escandalizar um desses pequeninos. Prestem atenção! Se o seu irmão peca contra
você, chame a atenção dele. Se ele se arrepender, perdoe. Se ele pecar contra
você sete vezes num só dia, e sete vezes vier a você, dizendo: ‘Estou
arrependido’, você deve perdoá-lo”.[1]
Neste sentido, a primeira
leitura, retirada dos Atos dos Apóstolos nos ensina como deve ser estruturada
essa nova comunidade que recebe do Senhor o sopro do Espírito Santo, sopro este
que destrói o homem velho, aquele homem com o coração de pedra.
São Lucas vai dizer, nos Atos dos
Apóstolos, que todos aqueles que abraçavam a fé viviam unidos e tinham tudo em
comum; cada um partilhava com a comunidade os seus dons e carismas sem nenhum
egoísmo e, assim, todos se alegravam, porque a vitória de um era a vitória do
todos, assim como a derrota de um era a tristeza de todos.
E o apóstolo continua afirmando
que para se ter uma comunidade verdadeiramente cristã é necessário ser
perseverante no ensinamento apostólico,
pois é da escuta amorosa da palavra que fortificamos a nossa fé; na comunhão fraterna, pois é na caridade
que colocamos em prática o ensinamento escutado; na fração do pão, pois é nele que somos alimentados e nos unimos ao
próprio Cristo, por isso que viver sem a Eucaristia é um grande risco para a
perda da fé; e por fim, a oração,
pois é nela que dialogamos e exprimimos ao Senhor as nossas alegrias e
dificuldades. E é por viverem assim, que aquelas comunidades aumentavam a cada
dia.
E através de Tomé observamos o
que acontece quando decidimos caminhar em dissonância com a comunidade.
Ele é sem dúvida a personificação
de todo aquele que não está junto a comunidade; e todo aquele que se afasta
dessa grande família não acredita em seus irmãos, perdendo, assim, a
oportunidade de fazer a experiência de fé em Cristo vivo e Ressuscitado.
E quando não temos essa
experiência divina, exigimos do Senhor provas, milagres, seguranças e muitas
vezes benefícios materiais para mudar de vida.
Tomé representa todos aqueles que
se fecham em si e fazem pouco caso do testemunho da comunidade.
Ele quer ver para crer, e somente vendo é que ele acreditará; e o
Senhor em sua Divina Misericórdia aceita o convite e vai ao encontro do
discípulo incrédulo, proporcionando a ele a experiência outrora proporcionada a
Pedro, João e Tiago no Monte Tabor, quando esses provaram à paz do
Transfigurado.
É unido a comunidade que Tomé
finalmente crê nas Sagradas Escrituras e no testemunho dos seus irmãos.
É inserido na comunidade que Ele
se torna o primeiro a proclamar que Cristo é Deus assim como o Pai.
Muitas vezes como Tomé, a dúvida
paira em nosso coração, por causa da dureza da vida, e ficamos completamente
desencorajados, apáticos e cheios de pavores diante de uma sociedade
relativista; e o grande mérito de Tomé esta no fato dele não ter se afastado da
comunidade diante da dúvida, e também de não ter saído pelas esquinas à procura
da verdade, como muitas vezes nós fazemos.
Não pensem vocês que este Tomé
que tem o coração petrificado está morto, pois ele está muito vivo e presente
em nosso meio; esse Tomé com coração de pedra é cada um de nós que diante das
adversidades da vida somos indiferentes ao projeto divino, perdendo, assim, o
temor por Deus. Basta sermos contrariados para vermos este velho Tomé imperar
em nosso Ser.
Não esqueçamos meus irmãos, que é
somente no fim de nossas provações que alcançaremos enfim a verdadeira glória,
pois é no fogo que ouro é provado.
Que possamos, assim, como Pedro
elevar ao Senhor os nossos louvores, ‘reconhecendo
e bendizendo a misericórdia do Pai’.
Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!
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